No ano de 2019, já se percebia e se investigava danos atípicos em morangos no Brasil. Avaliavam-se se estes danos eram causados por vírus ou ácaros, existindo poucas suspeitas voltadas para o verdadeiro causador do dano, o nematoide Aphelenchoides fragariae. A demora em identificar o verdadeiro agente trouxe vários prejuízos aos produtores, que ainda estão entendendo a melhor forma de lidar com esse parasita. Em áreas infectadas existiam vários e nítidos sintomas nas plantas, enquanto na mesma área, outras plantas permaneciam aparentemente saudáveis, o que dificultava uma rápida tomada de posição para o controle da doença.

Enquanto os nematoides são comuns no solo, o Aphelencoides fragariae migra para parte aérea, ocorrendo a contaminação por meio da penetração pelos estômatos das folhas, em condições de umidade. Em 2021, o Chile fez um informe da presença desse nematoide em morango no país, sendo os danos melhor caracterizados e identificada a causa. 

O nematoide A. fragariae completa seu ciclo de vida de 10 a 13 dias, e uma fêmea pode colocar até 100 ovos. A sua disseminação ocorre a partir de restos de folhas e solo. Também é preciso ter cuidado com plantas ornamentais em quais o nematoide pode se multiplicar.

Os sintomas desse nematoides são graves deformações nas raízes, folhas, flores e frutos. As folhas ficam menores e retorcidas em alguns pontos dispersos, que podem amarelar prematuramente. As flores ficam com miolo seco e algumas são abortadas, como na figura a seguir. Aparecem também frutos pequenos e distorcidos que diminuem o rendimento da cultura.

Deformação na flor, o miolo fica seco.

O controle biológico sugerido no informativo chileno foi o uso de Bacillus sp, Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana, agentes que estão presentes nos produtos da Dillon Biotecnologia.

No ano de 2022, fizemos uma análise de controle desse parasita em uma propriedade com mais de 300 mil mudas em Caxias do Sul, utilizando o produto Bactel®, o qual já estava sendo utilizado nesta mesma propriedade para o controle de doenças fúngicas. Foram analisadas 6 estufas e acompanhadas 60 plantas já atacadas. No início, as folhas apresentavam-se retorcidas e as flores estavam abortadas. Já na segunda avaliação, em 25 dias, mais de 50% das plantas não demonstravam as características de ataque e sintomas. A figura mostra uma mesma planta após 33 dias de tratamento. Sendo que em todas as plantas avaliadas ocorreu o desaparecimento dos danos característicos e voltaram a produzir morangos em 33 dias. Os resultados indicam que o uso de ferramentas biológicas tem potencial de controle de Aphelenchoides fragariae, sendo uma alternativa viável economicamente para o produtor.

Planta antes/depois, 33 dias do início do tratamento, as folhas não apresentaram mais o retorcimento e voltaram a produzir morango.